Foram realizadas diversas palestras, debates e oficinas à respeito do tema "Economia verde, sustentabilidade e erradicação da pobreza".
De maneira geral, fiquei surpreendido com o conteúdo. Esperava que fosse bom, mas foi muito bom! Pude ver que é possível conquistar uma carreira bem sucedida na área que você gosta mesmo que sua cidade não ofereça recursos suficientes para isso (é claro que os segmentos de tal carreira muitas vezes se dará fora de tal cidade, mas a vida simples e humilde conquistada na mesma pode permanecer). Pude ver que mais legal do que aprender em outra região e usar seus conhecimentos por lá mesmo, é se tornar fera no assunto e trazer o mesmo para o seu local de origem (o mesmo que muitas vezes é tachado pelos seus próprios habitantes como "sem futuro" ou "impossibilitado de oferecer um padrão de vida bacana para a maioria de seus habitantes"), alimentando assim a esperança de que é possível fazer a diferença, não importa sua origem, o importante é acreditar, e os recursos você mesmo fará de sua própria maneira.
Um belo exemplo é o do jovem cientista Isaias Campos Junior, criador do SISMAR (Sistema Integrado a Sensores de Monitoramento de Área de Risco). Isaias desenvolveu o projeto baseando-se nas tragédias causadas por deslizamentos de terra que muitas vezes levam várias pessoas a óbito por não terem tido maneiras de se prevenirem ante as tragédias. Ganhador do 2º lugar na FENECIT (Feira Nordestina de Ciência e Tecnologia), Isaias não está satisfeito, e quer apresentar seu projeto em diversas feiras, inclusive na ISEF, (International Science and Engineering Fair), feira de cunho internacional organizada pela Intel. "Não sei como vou, só sei que eu vou!". Essa é a frase usada pelo cientista para mostrar que não está nem aí para tudo aquilo que diz que ele não será capaz, sendo sua fé a verdadeira inspiração para seguir em frente. Atualmente, Isaías banca suas apresentações em feiras de ciências com doações cedidas pelos habitantes e comerciantes locais, e não abre mão da hipótese de conseguir um patrocínio.
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Isaias Campos Júnior, 18 anos, apresentando sua história, projeto e desafios. |
Como destaque tivemos também as apresentações de três fenômenos da programação em Java, Vinícius Senger (morador de Ubatuba e diretor da Globalcode), Bruno Souza (o "Javaman", considerado um dos pioneiros do java no Brasil) e Iara Senger, que veio para dar um susto na "homarada" que alimentava o estereótipo de que "TI não é coisa de mulher".
Com um ótimo senso de humor e uma capacidade incrível de segurar o público os palestrantes mostraram que não devemos "esperar pela oportunidade", e sim fazê-las. Fazer uma oportunidade significa estar no local certo, na hora certa, e ter o conhecimento adequado para assim criar possibilidades de se dar bem naquilo que é desejado.
Senger apresentou seus "brinquedinhos" e consequentemente expandiu a visão do público sobre as várias atuações da linguagem Java, tendo como foco as áreas de robótica e domótica.
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Visão geral dos "brinquedinhos" de Vinícius Senger: robôs baseados na plataforma Arduino e equipados com softwares em Java capazes de se moverem conforme a luminosidade, temperatura e distância fornecidas pelo local.
Bruno comentou sobre o desenvolvimento em Java e sobre as áreas de atuação para desenvolvedores da linguagem, além de participar juntamente com Vinícius e Duke (mascote do Java, representando por Bruno em um fantoche) de um workshop de robótica muito bem humorado.
Para mostrar que a mulherada está vindo com tudo (os homens que se cuidem), Yara Senger (sócia-diretora da Globalcode) afirmou que só não gosta de programar quem não sabe, e sugeriu aos que estão indecisos sobre qual caminho seguir que dessem uma chance à área da programação.
Houve quem não acreditasse e quem criticasse a iniciativa de realizar eventos do tipo na cidade, e aproveito para relatar aqui que parte da programação não pôde ser concluída devido a imprevistos de última hora (tal como a presença de Felipe Fonseca, pesquisador e articulador de projetos relacionados a redes de produção colaborativa e livre, mídia independente, software livre e apropriação crítica de tecnologia, que não pôde comparecer devido à falta de tempo causada pela conclusão de seu mestrado), mas o sucesso dos eventos surpreendeu a todos e mostrou que é possível fazer a diferença, independente dos recursos disponíveis, e que Ubatuba tem sim um grande potencial tecnológico. Estamos formando profissionais qualificados e que em sua grande maioria saem da cidade devido à falta de oportunidades. Devemos nos colocar um passo à frente e fazermos nossas próprias oportunidades!
Fotos: Álvaro Gonçalves
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